sexta-feira, agosto 30, 2002



Essa semana as coisas andaram meio mal paradas por aqui.
Nada fora da rotina, está tudo bem com o Fe, é coisa minha
mesmo, interna. Acho que saber da morte do Dodge, teve uma
repercussão maior do que eu supunha.
Isso, na verdade, não era pra ser dito aqui. Não era pra ser assim.
A minha idéia inicial, ao criar o blog era, em primeiro lugar,
desenvolver meu jogo do currículo. Essa super idéia da Marina, que me
deu o pretexto para começar.
Já vinha me incomodando o fato de conversar com muitas pessoas,
donos de blogs, mas, eu mesma, não ter uma cara na web.
É muito fácil dar pitaco na história alheia quando não se tem a
mesma identidade, no caso virtual, pra também ser avaliada.
Me sentia meio mascarada, sei lá, meio numa situação confortável
de anonimato, que pra mim era muito desconfortável.
Sabe? Anonimato no mal sentido? Era como eu me sentia.
Mas achava que não tinha nada de meu a dizer, a minha vida pessoal é
inexpressiva. Quando a Marina apareceu com o joguinho, eu
pensei, ha! lembranças: eu tenho, taí o blog.
Existem lembranças na minha vida, na vida de qualquer um,
que não é coisa que se possa parar uma reunião de trabalho e dizer,
olha, sabia que eu já dormi numa casa de arvore?
Ou, conversando com uma amiga sobre a vida, sobre a vida de hoje,
encaixar que eu nadava com golfinhos..
Mas foram esses acontecimentos que acabaram dando o tom da minha vida inteira,
e que ficaram perdidos lá atrás, sem significado, por conta das atribulações da
vida de agora, até que, por causa de uma coisa assim, o blog, o jogo,
a brincadeira, venho resgatando e percebendo, que já vivi muitos momentos intensos,
bons e ruins. E vejo que escrever sobre eles, apesar de eu não gostar de escrever,
confere importância, oficializa esses momentos.
(Não gostar de escrever não é verdade, eu detesto mesmo. Não levei em conta
esse mero detalhe quando comecei o blog, agora é tarde..: )
É bom lembrar e é bom saber que eu já vivi coisas assim; até porque,
ao lembrar, me alimento de possibilidades futuras.
Me pareceu que o blog seria a medida certa e veículo exato pra isso.
Mas como diz Meg: - “Blogs tem vida própria, querida, e isso é fato irrecorrível."
Verdade. Tenho o blog há mais de um mês e ainda não escrevi uma linha sequer
sobre as lembranças do joguinho.
Coisas começam a acontecer, gente chega, fala, pergunta, o que lembra
outras coisas, eu redescobri meu gosto por imagens, minha vida é uma trilha
sonora, não poderia deixar isso de fora, lembrei que fui fotografa e não foi por
pouco tempo, foram 8 anos, que amo vidros, e parece que isso tudo faz parte
de uma outra vida. Na verdade era outra Angela. Na verdade existem outras
Angelas na fila.: )
Agora descubro que blogs além de vida própria - pois ele me diz mesmo: agora
vai por aqui, não adianta ir por ali, agora pára- eles levam a gente, querendo
ou não, a aprofundar sentimentos abafados.
Oficializar no blog que Dodge morreu, que eu não percebi a importância
dele na minha vida durante os últimos 26 anos, tem peso infinitamente
maior do que eu simplesmente pensar; ah! Dodge morreu.
Virou fato, escrito, não é só pensamento, lembrança. E agora eu vou ter
que lidar com isso.
Quem fez com que fosse dessa forma foi o blog, e eu dei uma travada.
Não estou sabendo lidar muito bem com essa exposição.
Esse blog é meu, mas tem certas coisas que eu não quero tornar publicas.
Mas o blog é publico. E eu percebi que no universo blog, as pessoas sabem.
Se eu estiver bem, postando abobrinha, porque estou em fase de abobrinha,
todo mundo vai entrar na abobrinha numa boa, e a gente vai se divertir
muito. Mas, se eu estiver postando abobrinha para tapar buraco,
porque estou sem assunto ou porque não quero assumir uma dor,
todo mundo vai perceber que estou fingindo.
Não dá pra escamotear no universo blog.
Isso é engraçado porque na vida real, dá pra escamotear numa boa. : )
Acho que esse é mais um divertido mistério, desse inconsciente coletivo
maluco, que permeia o que aparece na tela do monitor de cada um.
A gente sabe.
Então pra quem me escreveu falando das abobrinhas, eu tenho a dizer que
é verdade: eu tava enchendo lingüiça. Prometo postar abobrinha agora só
quando estiver em fase de abobrinha, quando estiver como agora, vou
ficar calada ou escrever sobre o que estou sentido dentro das minhas possibilidades.
Mas no momento, o que eu quero mesmo mesmo, é escrever sobre meu jogo do currículo.
Ver se dessa vez eu consigo.




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