segunda-feira, outubro 11, 2004



Notas de viagem. A porta do quarto está entreaberta, existe uma cortina branca e uma varanda. Na varanda, uma mesa e flores e cartas. Existem cartões, envelopes amassados e jogados sobre a mesa. A luz do telefone, na espera, pisca sem parar. É vermelha também a taça de vinho sobre o aparador onde ainda bate um fio de sol, o último da tarde. O sol aqui é de um amarelo sem cor Existe aqui, tomando conta da maior parte do quarto, uma cama, forrada com finos lençóis brancos, uma cama alta e branca, como um altar. Da outra janela dá pra ver o Vaticano. O Vaticano e o meu sentimento de impasse, em relação a um lugar onde eu nunca estive; uma abóbada de estranhas visões, douradas, brancas, visões fugidias de santos e esperanças. A parede é de um branco que eu nunca tinha visto, um branco antigo, mais velho que meu País. O cheiro aqui é diferente, tudo aqui é diferente, cheio de rosas e vermelhos, mas, os vermelhos aqui são sagrados, os meus não são. Meus vermelhos são tropicais, perplexos diante de vermelhos irreconhecíveis. Só aquele eu reconheço, o vermelho que vi nos olhos daquele homem ali, sentado na cadeira azul. O homem de olhos azuis, com os olhos perdidos nos mais puros azuis. Vastos, insonháveis azuis. Infinitas distâncias azuis. Infinitas distâncias em qualquer cor. A cor da solidão é universal.




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