terça-feira, abril 21, 2009
..."De acordo com a ideologia reinante, o que somos, o que temos e o que fazemos depende
unicamente de nós. A felicidade humana é uma construção pessoal que exige método e esforço.
O que implica, inversamente, que a infelicidade é o resultado da nossa incapacidade para
sermos felizes. Haverá pensamento mais perverso? Não creio.
E, no entanto, ele é repetido, dia após dia, numa sociedade que se sente infeliz por não
ser feliz, como se a felicidade não fosse também um produto de contingências várias, que
escapam ao controle dos homens. O produto, no fundo, de oportunidades que vieram ou não
vieram; da ação ou da inação de terceiros; e das mil vidas que poderíamos ter tido.
Como no tema musical que Susan Boyle canta com a intensidade própria de quem explica a
sua biografia, os nossos sonhos não dependem só da nossa autonomia.Dependem dos "tigres da
noite" ou das "tempestades imprevistas" que tantas vezes os envergonham e despedaçam.
Quando a febre passar e Susan Boyle regressar à aldeia e ao anonimato, a memória que
deve ficar não é a de um talento escondido que teve os seus 15 minutos, ou 15 horas,
ou 15 dias de fama. O que deve ficar é a lição grandiosa de uma mulher que, na sua tocante
simplicidade, disse a cantar o que provavelmente aprendeu com a vida. Que o inferno ou o
paraíso, longe de serem prêmios exclusivamente humanos, repousam também nas mãos do destino."
De JOÃO PEREIRA COUTINHO, via Arquivo de Artigos Etc.
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