Ando triste, uma dor contínua, que não sei de onde vem, um sentimento de perda que não é do meu feitio talvez seja alguma coisa que deixei passar mas que não identifico. não está me paralisando nem nada, continuo funcional, fazendo as coisas, o trabalho ajuda, mas como diz Ryta, estou sem o meu carisma. sem aquela vontade de trocar, de publicar, fotografar, um hiato, não férias,não me fragiliza exatamente porque assumo que estou triste, mas me deixa mais vulnerável à essa terra que está cada vez mais plana, a destruição da educação, da saúde, minas debaixo d'agua, água envenenada no Rio, criacionismo, coronavirus, música sertaneja, índio cada vez mais parecido com os seres humanos, foi o que ele disse, regininha passivo-agressiva, campanha de abstinência sexual, imagina, uma reichiana ouvindo uma perversidade dessas, lidar com um mundo de estímulos nesse nível de rasteirice oficial. Dei uma de marisa monte desde que cheguei em sp e criei um universo particular, até que passe, Ou até que eu passe. No momento estou sem vontade de nada,não quero encontros nem passeios nem atividades, lógico que a gente sempre sabe que vai sair do outro lado mais fortalecida, resolvida, que no final coisas não darem certo acaba sendo uma grande sorte, todos os chavões da auto-ajuda reunidos, aliás o floral basiquinho pra esses estados de desalento é o Gorse, logo volta o entusiasmo e tal, mas enquanto isso não acontece, mudo para outros sonhos, os meus estão sem jeito, olhando pro nada, fico meio assim e no momento não lido com importâncias, fico nesse meu universo particular fazendo coisas propositalmente aleatórias como acordar em modo de intensa apreciação olhando as nuvens por tempo indeterminado cedinho quando o céu parece mais perto, usar vários sabonetes no banho. tenho três, ver revistas de moda, experimentar um rímel, um creme, uma torta de chocolate, chorar um pouquinho enquanto rego as plantas no jardim, ouvindo a música que é feita por uma moça tão legal, tão novinha e que já sente o vazio e o desejo de conexão ou a falta dele no século 21 e que usa nos arranjos uma harpa, nossa uma harpa no r&b, isso é tão moderno e um backing vocal que veio de outras esferas. Diário, 29 de janeiro de 2020. Vai piorar.