segunda-feira, setembro 22, 2003



Foi Dauro que notou que minha listagem sistemática e objetiva do post abaixo,
tinha virado poema. Foi no ano passado. Não sou dada a poesias, apesar de algumas
pessoas acharem o contrário. Se faço poesia é de forma inadvertida. Quem é poeta, aquilo
sai pela alma, é intencional, ou a pessoa só pensa assim, em versos, sobre metáforas, não
faço isso.

Era a mesma primavera, quando joguei fora muitas coisas que estavam nos armários e
naqueles compartimentos onde a gente nunca mexe porque dói; é nosso dia de finados.
Dói no coração, na boca do estomago, são as lembranças daqueles acontecimentos que
fazem a gente se encolher na cadeira. Joguei fora. Joguei tanta coisa fora, as mais
importantes. Ficaram guardados, sem se mexer, meus tabus de sofrimento, que eu nunca
imaginei que meus elos com eles já fossem tão fracos. Vivia da imagem da dor, como se
o tempo não tivesse passado, antevendo a dor de rever. Afinal, ao abrir das gavetas,
não senti, constatei. Talvez fosse mais justo dizer que eles simplesmente foram embora,
eu é que ainda não tinha visto.

Esse ano me peguei arrumando. Arrumando, arrumando de novo. Arrumei tudo, uma
semana inteira de arrumações, tirando de um lugar, colocando em outro, mudei a ordem das
gavetas, onde existiam documentos importantes agora existem shorts, biquínis, cangas.
Criei novos espaços pra coisas que estavam juntas e vi que elas não tinham nada a ver
umas com as outras, passei coisas que eu não podia viver sem ver, pra parte de cima do
armário, mudei minha cama de lugar, os livros que eram os mais importantes, foram para a
parte de baixo da estante; só ficou um, o que fala sobre as galáxias, os quarks, a nova ordem.
Arrumei as pastas do computador, decupei ou resumi, revi coisas que não me lembrava de
ter e ficava procurando fora, no Google e, no entanto, já estavam todas ali, prontas para
serem usadas, eu é que não via. Olha só, metáforas : )

Já não tenho mais nada pra jogar fora, talvez muitos quilos, ainda, sim; mas, nesse
momento, tudo que eu tenho, eu quero, mesmo as lembranças duras que permanecerão,
mesmo as que me fazem chorar, eu as quero, elas fazem parte de mim, eu passei por elas,
por causa delas hoje eu sou uma pessoa mais feliz. Talvez ano que vem, quem sabe, seja
o ano das tranformações. Primeiro joguei fora, agora arrumei tudo e ano que vem, concluo
as tranformações necessárias pra ser melhor pra sempre. Será esse o movimento da vida?
Parece uma alquimia. Quem viver verá:))

Nenhum comentário: