quinta-feira, julho 31, 2003



Não existe outra solução: só lavando a mão no penico: ))

Eu tive uma Bá, preta velha, Rita Maria Leal, nome inventado, ela nunca soube o próprio nome.
Um dia conto melhor a história dela, é bonita. Titina cuidou de mim, do meu irmão, dos meus
primos, dos pais deles, meus tios e é minha melhor referência de cuidado, proteção e maternidade,
tanto quanto minha avó é referência de amor na minha vida, é o amor que me sustenta até hoje,
o que recebi dela. Quando a gente era criança e passava por umas fases, que a bá dizia ser
de "malasorte" - sabe quando criança começa a esbarrar, cair, machucar joelho e fica com febre,
depois corta o dedo, depois cai da árvore? Então, de vez em quando ela aguçava o olhar em cima
da gente e dizia..."Coitado de quem... ai, ai, ai, vou já cuidar disso"... "Dona Lulu, colocaram maus
olhos nas minhas crias, hum! hão de se haver com Rompe Mato e é agora!" Sinal pra minha avó
pegar o terço de católica apostólica romana e ir rezar pra Deus enquanto a Bá rezava a gente
numa língua estranha, jogando farinha na nossa cabeça e correndo atrás de quem tivesse conseguido
escapar. Era chato porque eu ficava com o cabelo cheio de farinha por uma semana, mas também,
era divertida áquela correria pela casa, o esconde-esconde, o sobe e desce escada e, apesar de
Dona Lulu assistir àquela cena com quase pavor, a gente ria e não sentia medo. Crianças sempre
sentem além das aparências, áquele amor todo, em forma de feitiço, não podia ser um canal da maldade
daquele-que-eu-não-digo-o-nome, como dizia minha avó, Dona Lulu.

Quando acabava a confusão toda, a bá largava a gente, ia limpar a casa; olhar de vingada e com
a confiança de que, pelo menos por um bom tempo, a gente estava protegido. É fato. Não
acontecia mais nada. Pior, começava a acontecer com aquela tia invejosa, hehehe. Isso aprendi
desde pequena e não foi com Titina não, foi com a catolica apostolica romana, minha avó:
"maldade inadvertida se dilui, maldade advertida, volta."

Queria que a bá tivesse conhecido Felipe. Ia gostar que ela tivesse jogado farinha na cabeça
dele, ao menos uma vez. Ia gostar que ela tivesse jogado muita farinha na minha cabeça
nesses últimos anos:)) Mas essa introdução emocional toda, é pra explicar essa coisa de penico
aí de cima. Lavar a mão no penico era uma simpatia mais aditivada digamos e, essa sim era
luta armada porque, quando ela achava que ainda não estava de bom tamanho a reza da
farinha, o lance era conseguir pegar a gente, sacudir dentro do tanque e fazer com que a
gente lavasse as mãos bem dentro do penico da minha avó, viu? Água limpa, sabão da costa
mas era uma eca! Aliás, coisa que não entendo até hoje, pleno final da década de 60, o homem
pisando na lua, banheiros espalhados pela casa e minha avó, tetei e a bá, usando penico
debaixo da cama.

Agora eu te digo: quebrei meu dentinho, perdi dinheiro na rua, fiquei gripada, depois tive uma crise
de sinusite, não podia olhar pro monitor que me dava dor de cabeça, fiquei sem poder fazer um trabalho
e ontem, brincando com Felipe na escada, caí e torci meu tornozelo.

O lance não é pra penico? :))

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