terça-feira, setembro 27, 2005
Ja falei algumas vezes da minha avó católica-apostólica-romana, da minha tia
filha-de-maria e da minha bá, que acreditava em tudo isso mas que era mesmo,
cabloca, rezadeira, e espirita de berço, que, escondida de minha avó, fazia todo
o tipo de reza e feitiço em cima de nossas cabeças, arrumando pra nós, pais e mães
que nunca víamos em carne e osso - voce é filha da rainha, dizia pra mim, voce tem
parte com rompe-mato, dizia a meu irmão, com um olhar orgulhoso, pra nós incompreeensível.
Nos contava histórias de espiritos, visões, profecias. Viviam minha avó e tia e a bá em
trincheiras religiosas opostas, olhares recíprocos de reprovação e acordos tácitos
quando era de interesse, pra nos oprimir em conjunto, mas se irmanavam com gosto
no dia dos meninos, Cosme e Damião. Minha avó e tia se esmeravam de verdade
na confecção dos doces e a bá fazia saquinhos pra entregar no portão. Ela sempre me
dizia que eu era protegida deles e se algum dia, depois que ela se fosse, eu me visse
em dificuldade que chamasse por eles, que ela vinha atrás :) Queria que ela estivesse viva,
com suas crenças, e, hoje, eu sempre lembro dela e dos meninos.
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