quinta-feira, dezembro 08, 2005
Ando meio sem graça esses dias, assim de pensar em coisas nada a ver. Minha
cabeça parece aquela coisa da radio relógio "voce sabia?"; cultura inútil e muitos
erros de concordância. Deve ser dezembro, adoro ano novo, mas dezembro é meu
agosto. Fico meio sem ar, parece que todas as tristezas do ano aparecem pra se
despedir. Nâo é todo ano que é assim, mas esse sim. Mas no meio disso acontecem
lembranças legais, como a desse meu amigo que encontrei ontem na rua depois de
muitos anos e que é deficiente auditivo, mas entre eu e ele, ele é surdo-mudo mesmo,
ele é desse tempo - pelo que sei eles detestam essas nomenclaturas politicamente
corretas, diz que, nomear diferente não mudou em nada a discriminação que ele
sempre sentiu e ainda sente, mas enfim, ele me contou um dia que o mundo dele
é cheio de ruidos estranhos que no começo quando ele aprendeu as libras se assustava
um pouco como quando pessoas ajeitam o cabelo ou passam a mão na rosto, ou
acenam pra alguém na rua, elas estão falando residuos de palavras na linguagem de
sinais; ele ouve palavras nesses gestos, mas não palavras completas ou com sentido
porque afinal são só gestos, mas pra ele são algum final de palavras por exemplo:
o final da palavra rosto, ou da palavra bonito. Acho que pra gente que ouve seria
por exemplo como passar por um completo desconhecido na rua e ele dizer pra voce
de repente ...Nito, ... Bon ...Osto...Susurrar no seu ouvido F... passar por voce e dizer G...
ou H... Que coisa né? Por mais que se viva mil anos, existem universos que a gente
nunca alcança. Voce sabia?
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