domingo, março 15, 2020
diário. de bobeira no hostel, que está vazio, parecendo mesmo um hotel impessoal. já tomei muitos cafés, o dia está lindo para passear mas melhor ficar por aqui, vou viajar na terça, melhor prevenir. mas eu não estou reclamando da vida nem nada, sou grata por ainda estar viva. e bem. mas essa coisa de confinamento seria uma ótima hora para ter uma casa. momento perfeito pra ter morada. rolam uns ecos de conversas de madrugada na cozinha, altos papos, o silêncio íntimo, sincronia de gestos, as risadas, confidencias que não faria a ninguém, nenhum jogo, nenhum artifício, só harmonia e proteção, só o lar, os espaços, cheiros e sons conhecidos. eu sei que nunca mais vou ter uma casa nesses moldes e está tudo bem mas bem que ia ser bom agora. imaginar essa casa me dá uma intensa sensação de completude. quando comecei essa viagem foi uma saída, a menos neurótica e precária que encontrei para a situação que estava vivendo e acaba que ela me abriu portas que eu nem sabia que existiam. portas dentro de mim, principalmente, encontrei memórias, algumas que me fortaleceram outras me sobrecarregaram de sentimentos que ainda não sei lidar, agora mesmo passei por um momento assim, as vezes luz, as vezes limite. tanta revelação, muitas vezes essa jornada é um sentimento de retorno de uma viagem, e esse é um sentimento muito estranho. como se sair em viagem fosse na verdade voltar, o retorno para uma outra vida ou pra alguém que foi perdido. em ultima instancia nada foi perdido. mas não tem ninguém. tem eu só. então eu sigo daqui sem lembranças não sei até quando mas não importa no final eu sou minha própria casa. o resto é a vida e é o mundo. e eu amo. #domingo