segunda-feira, agosto 01, 2005
Conheço sim, pessoas pra quem a palavra amor é palavra preciosa, como água
que falta. Ela é solene como um ritual ou é uma palavra cujo conteúdo é cheio de
temor, como é o deus do ocidente. Pessoas pra quem amor é um mistério ou só tem
um único significado, quando o amor é motivo de constrangimento. Pessoas pra quem o
amor está nos livros, o tratado do amor, letras maiúsculas, com fundamentação teórica e tudo.
Pessoas que guardam o amor como se fosse caixa de chocolate muito caro, e só pegam
um, muito de vez em quando, abrindo devagar o papel dourado, vermelho, prateado, azul; o
papel mais que o chocolate, com os olhos mais do que com as mãos; oferecer nem pensar.
E tem aquela do risinho meio de desprezo, a vitória da posse, o amor usável, de quem
confunde amor com medo. Essa é engraçada pra caramba. Nada contra formas, assim será,
assim tem que ser e o amor é mencionado, é querido. Me incomoda só quando, apesar da
evidência contundente das guerras, dizem que o amor não existe. Mas o amor existe
mesmo que na "beleza das coisas que não existem", ele existe. Mas nem, amor pra mim é palavra
banal; é mamão, chuchu, cacho de bananas, café da manhã, ventinho da tarde. Acho que é por
isso que, ás vezes, recebo esses olhares estranhos, olhar pra quem é fora da realidade,
pra quem tem parafuso sobrando. Eu me espalho. Amor não é tesouro, amor é todos os dias,
é assim como é o dias das mães ou o dia da mulher ou o grande milagre das segundas-feiras.
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