segunda-feira, agosto 25, 2003
Já que o ambiente está propício para as conversas ou coisa ali na mesma sintonia,
olha que delícia que encontrei no Mosca:
"Conversa de maluco
25.Ago.2003 | (Transcrição de uma ligação telefônica grampeada pelo inspetor
Pinheiro.)
Paulo Roberto Pires – Aê maluco, tá ligado? Comprei uma parada da boa, 7 real
e 99 na Americana. Coletânea de Claudinho & Buchecha, tá ligado? Parada sinistra,
maluco. E eu nem tinha prestado atenção direito. É bom de dançar e bom pra dar
uma idéia num pessoal, tá ligado? Só love, só love.
Arthur Dapieve – Fala, Maluco! Aí ó: tou ligado. Comprei também essa parada que
se mexe. É o bicho, rapá. Há tempos eu queria uma antologia deles, e a 7 real...
Bom demais, né? Melhor foi prestar atenção em músicas deles que acho que nunca
tinha ouvido... Eles tinham uma tremenda veia pop, hein?
PRP – Pop? Só. “Conquista” é dubom, com muito tchururû e “oiesss”, o yes no inglês
CB, Çangue Bom – eu já vi isso pichado num muro. Tá certo que a produção dá um
upgrade bacana no som deles, mas o que interessa é que o resultado é muito bom.
E “Quero te encontrar”, melhor nesse original que na boa levada do Kid Abelha, é bom
mesmo, letra e música. “É muita ousadia ter que percorrer/ O país inteiro pra achar você/
Mas tudo que eu faço tem um bom motivo” é duca.
AD – Eu gosto muito de “Toda linda”, maluco, uma música que eu ou nunca tinha ouvido
ou na qual nunca tinha reparado direito. A melodia, a letra descobrindo uma loura gostosa
no Aterro do Flamengo... Seria “naîve” se eu tivesse certeza sobre o que isso significa...
Curto de montão também as versões para “Uma noite e ½”, da Marina, e “Tempos
modernos”, do Lulu Santos... Quê qui tu acha?
PRP – Sinistra a da mulher no Aterro. E tem a parada da fidelidade, “Eu não posso
fazer amor com você/ Porque eu tenho o meu compromisso/ Se acaso eu resolver
te fazer mulher/ Vou pôr meu casamento em risco”. Manêro, né? Até parece, ó os
mano aí..., ó o cara, lá na Penha, de onde eu venho, num sei não. “Tempos modernos”
parece que o C&B são os verdadeiros Lulu Santos. Ou é o contrário? E não pára de
rodar a paradinha aqui. Liberta, DJ!
AD – Ih, tudo é da Penha, tipo Romário, peixe? Sou da comunidade de Copacabana,
uma espécie de Penha com praia. Bom, voltando ao nosso fio, acho que o Lulu é uma
referência para qualquer maluco que tente descolar um trampo na música pop brasileira,
aí doidão ó. Aquele artesanato poderoso, aquele chicletão de ouvido glorioso. Com C&B
não poderia ser diferente... Se bem que o AfroReggae, de Vigário Geral, somzão muito
maneiro, tem o Caetano Veloso como padrinho. E rola “Xereta”!
PRP – Pancadão. É papo de pessoal molhando a camiseta, choque. Tinha passado
despercebido pra mim o livro-revista “DJ Marlboro na terra do funk”, editado pela Dantes.
A parada inclui um CD com grande hits do Marlboro, uma versão remix do Tigrão e aquela
de levantar a galera: “É som de preto/ De favelado/ E quando toca/ Ninguém fica parado",
do Amilckar e Chocolate, uns parceiro manêro aí. No disco tem também o “Rap do Salgueiro”,
dos nossos Claudinho e Buchecha. Ressuscita São Gonçalo!
AD – Sabe o que acho interessante no CD do C&B? Aqueles momentos, como em “Nosso
sonho” e “Rap da união” em que eles se transformam numa espécie de “Guia Rex” das
comunidades, enumerando nomes de favelas e bairros e, ainda assim, fazendo música
gostosa de ouvir, não fosse o produtor o Memê (olha o Lulu Santos aí, gente!)... Como
aquela introdução de “Uma noite e ½”. É a mais perfeita definição da gíria "barraco", com
as nêgas lá deles ameaçando quebrar o disco da Marina e eles mandando elas irem lavar
roupa... Uma delícia, sangue.
PRP – Mas barraco mesmo é “Meu bom juiz”, novo disco sambandido do Bezerra da Silva,
depois eu escrevo sobre porque é duca. C&B são do bem, românticos, meio ingênuos até.
Mas Bezerra é barra pesada. Te liga que o disco tem pelo menos uma ótima, “A semente”,
que fala da plantação esquisita que “brota” no quintal de um “vizinho inocente”. E o clássico
“Defunto cagüete”, sobre um dedo-duro que não deixa a função nem mesmo no próprio
velório: “Era cagüete sim/ A polícia pintou no velório/ O dedão do safado apontava pra mim”.
Fala favela!
AD – Sinistro, malandro, sinistro. Esses caras _ Bezerra, C&B, AfroReggae, o Zeca Pagodinho,
o pessoal do funk de maneira geral _ têm o dom de contar a vida do cidadão de uma maneira
que o cidadão entenda, sem preconceito nem correção política. Com os meios expressivos de
que dispõem, traçam retratos legais e brutais do que é o Rio de Janeiro na virada do século.
Nós, classe média, às vezes temos dificuldade de enxergá-los pelo que eles verdadeiramente
são, e não porque uma modinha Zona Sul cismou que eles eram “trendy”. Trendy, rapá, só da
Central e da Leopoldina... Mas, pensando bem, uma coisa me preocupa: será que daqui a uns
dois anos a gente vai estar elogiando a Kelly Key também pela música dela!?
PRP – Aê, sangue, acho que a gente tem outros motivos pra elogiar a Kelly Key, tá ligado?
Falando sério, acho que não, a preparada aí não é boa mesmo – musicalmente, digo – e não
vai ter Caetano Veloso pra me fazer achar o contrário, pois ele não me convenceu nem com
“Sozinho”. Malandro é malandro e mané é mané, tchururu...Demorô...
AD – Sei lá... Um amigo meu, inglês, que morava aqui na área, saca, me disse uma vez que
um produtor da MTV de lá, amigo dele, esteve aqui de férias, ouviu a KK e disse que, em inglês,
ela ia dar o maior pé (e, claro, coxas, ancas, peitancas, tremendo pessoal) nas Oropa. Mas por
que ela não posa pelada nos encartes dos CDs, que nem a Preta Gil? Ih, vazei!
Do Nomínimo : )
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