Sábado:
Passei o dia entre os chás de Claudia e música no computador. O chá lilás de cassis, depois o
earl grey, depois o apricot pamplemousse. Vários estados de alma, várias cores. Essa calma que
eu sinto é aquela do vácuo do furacão. Só não sei ainda se é o começo da tempestade ou o fim.
Felipe está em Juiz de Fora, foi pra missa do avôzinho. Eu fiquei aqui com minhas escolhas e com
as suas consequências. Se tem uma coisa que a gente pode tirar de bom de uma morte é o que
ela dimensiona, lembra sobre a vida, pra quem permanece. É doloroso mas a dor faz parte da vida,
o cinza faz parte da vida, os dias chuvosos, o frio, as musicas tristes. Descobri o par perfeito pro
meu estado de espirito no momento, Eric Satie. Ele e Tom Jobim. Não sei se tem a ver, assim,
musicalmente, mas, como combinam. Já aconteceu algumas vezes desse quarto se transformar
numa parte do mundo que contém todo ele. Um holograma E daqui consigo saber de Nova Deli,
de Paris, dos ventos que começam a soprar no Maine, do último mergulho do falcão, da dança dos
beduíinos, do deserto de Gobi, um planeta visto do espaço e minha vida. Horas em que tudo muda
e a gente já não pode mais mudar de volta, só seguir em frente. Não é um sentimento ruim mas bate
um tum por dentro, uma real. Ando em dúvida sobre qual vida eleger pra miim. A mais dificil, a mais
distante é a melhor mas a pior está tão perto, tão sem esforços. Ando cansada dessa assimetria entre
o que eu quero e o que eu tenho, entre o que eu sou e o que eu posso ser. O que eu sou está além das
minhas possibilidades. O que fazer? Não sou uma pessoa triste, o momento é triste, é só. Sempre
as boas experiências pelas quais passei, as alegrias, me alimentam nessa hora, é assim que a
vida é ou deve ser, eu acho. De uma coisa eu sei, agora, aqui nesse quarto, nos enormes espaços
entre um acorde e outro, na televisão sem som, assistindo ao olhar dos humanos, eu consigo ver a
verdade.
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