quarta-feira, fevereiro 12, 2003



Hora de estudar.

Olha:

..."Conclusão
Num ensaio que causou furor na França, Elisabeth Roudinesko procura fazer o ponto
sobre o papel da Psicanálise no atual contexto cultural, perguntando se o longo e
demorado processo analítico ainda tem algum valor para o homem contemporâneo que
parece estar muito mais voltado para soluções mágicas e imediatas. Para responder
a essa pergunta ela tece algumas considerações sobre a “derrota do sujeito”.

Gostaria de concluir este breve ensaio levando em conta as reflexões desta autora,
que me parecem de alguma forma pertinentes com o nosso percurso. O que manifesta
o sofrimento psíquico, na opinião da autora, hoje seria a depressão, uma síndrome
caracterizada pela tristeza, apatia, busca da identidade e culto de si mesmo, em que
o homem procura desesperadamente “vencer o vazio do seu desejo”. Inebriado pela
liberdade conquistada, sente-se angustiado por não saber como administrá-la.

Numa época em que a subjetividade é substituída pela individualidade, o homem
sente-se um anônimo, um estranho para si mesmo, irremediavelmente alienado do
seu núcleo mais profundo. O conceito de globalização parece ter afastado definitivamente
o espaço para as diferenças e as resistências, num modelo de sociedade pasteurizado,
onde cada um existe na medida em que se identifica com uma tribo, uma comunidade
real ou virtual. O homem contemporâneo é chamado a abraçar os desejos que lhe são
impostos pela mídia e pelo próprio contexto cultural em que vive, alienado do seu movimento
pulsional interno.

Constantemente bombardeado por apelos audiovisuais, o homem contemporâneo
parece não conseguir mais entrar em contato com o seu desejo. Tudo lhe é servido
numa bandeja, pronto e mastigado e, se recusar se servir, ele estará definitivamente
banido de sua comunidade. Ele passará a ser out, pois não há espaço para que ele
afirme a sua diferença.

É evidente que esta situação alienante acaba causando uma forma sub-reptícia de
ódio, que, na opinião de Roudinesko, assume a máscara da dedicação à vítima.
Desta forma, a angústia que fingimos exorcizar invade o campo das relações sociais
e afetivas e se manifesta no “recurso ao irracional, culto das pequenas diferenças,
valorização do vazio e da estupidez”.

Um aspecto típico desta sociedade depressiva é a “valorização de uma competitividade
baseada unicamente no sucesso material”. Uma das conseqüências, afirma Roudinesko,
seria a tendência do homem contemporâneo de recorrer às substâncias químicas ou
aos poderes mágicos de terapias esotéricas, ao invés de se confrontar com seus
sofrimentos íntimos: “o silêncio passa então a ser preferível à linguagem, fonte
de angústia e de vergonha”.

Diante deste cenário, podemos dizer com a autora que, “às vésperas do terceiro
milênio, a depressão tornou-se a epidemia psíquica das sociedades democráticas”.
O sintoma neurótico é tratado hoje como depressão ou estresse. Desta forma,
ele é despojado de sua causalidade psíquica oriunda do inconsciente. Recusando-se
a encarar o inconsciente, as terapias, sejam elas baseadas na farmacologia ou nas
psicoterapias, acabam falhando no seu objetivo, condenando o homem contemporâneo
a viver com paliativos." Alberto Girola in Angústia.


Franceses são chatos. Leia Shakespeare ou Gregory Bateson. Ou não leia nada. Tá calor.







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