quarta-feira, dezembro 11, 2002




Não estou querendo minimizar a importância do momento mas esse negócio de crise existêncial é um
atrapalho mo trabalho. Pra começar a gente fica meio imobilizada na dor. O eixo são os resgates e as
despedidas, de mim e de outros. Um sol, todo mundo na piscina, na praia, no clube, na festa, no show,
no tudo de bom e eu pensando na vida. Tão mais importante o que está acontecendo aqui dentro, não
dá pra pensar em outra coisa, mas tudo acontece é aí fora. Deve ser alguma lei de compensação,
dessas como a Lei de Murphy or else, justo na hora em que tudo pipoca aí fora eu tô aqui, nesse trabalho
interior de chinesa presa, escrevendo cartas para amigos que não vejo há 20 anos só pra descobrir que
o assunto, na verdade, já não tem mais a menor importância, procurando por pessoas pra dizer o que
deveria ter dito ou pra dizer que afinal: eu não deveria ter dito. Tudo isso, que pra mim nunca teve muito
significado, está extremamente importante agora. É tanto do conteúdo! Coisas que estou lembrando,
coisas cuja melhor maneira de elaborar - me perdoem os psis - é esquecer. Coisas que perderam a
importância e coisas que passaram a ser indispensáveis, coisas impensáveis:)o que eu sou agora, o
que pensava que era, o que jamais serei apesar do meu desejo. Qual é o meu desejo, qual é a minha
possibilidade. Quem eu fui e não voltarei a ser, quem eu esqueci que era, quem serei daqui por diante,
quem preciso resgatar pra seguir adiante, quem jamais vou esquecer, quem precisa saber o que eu
sinto, quem eu tô deixando pra trás, algumas coisas são alívio, algumas muita dor, ufa, que canseira..
além do mais, não conhecço sentimento que gere mais estresse do que mudança e eu tô numa revolução,
ou seja além de em crise eu tô estressada. Tudo bem, na vida isso é necessário pra gente passar a
funcionar melhor, pra ver o que tem valor de verdade ou o que a gente tá carregando a tôa mas nossa!
como é chato, é tão chaaato, é muito chato.



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