quinta-feira, março 13, 2003



Fui indo, fui indo e o comentário virou post.


"Angela, acho que com essa guerra que vem por aí todos nós vamos virar iscas. :P
Inagaki (@) (w) em 12/03/03 20:05"




Isso é ruim, né Ina? Fora o constrangimento de se achar livre, que pode ir e vir, autônoma, e descobrir que,
na hora do vamos ver, é mais uma na massa de manobra. Uma micróbia. Eu fico pensando se tem algúem
no mundo que se lembre de um tempo onde o justo, o cooperador, o receptivo prevalecia. Qual época da história
ou qual economia ou qual lei cósmica que serve de referência pra gente saber que esse estado de coisas, que
se repete e sempre se repete é o injusto, o desigual, o desumano? Nâo me lembro de ter vivido em outro sistema:
o medíocre, as razões mesquinhas, prevalecem com uma constância que afronta qualquer certeza de fraternidade,
igualdade e liberdade e no entanto, não há como não se guiar por esses valores, parece genético. Essa é uma
questão que me persegue. Talvez seja a pergunta da minha vida inteira (será que o dia em que eu obtiver a resposta
eu morro?:) Se a gente sabe o que está acontecendo, se tem consciência ou pelo menos a noção de que, o que
está ali, á nossa frente, é falso!, de que as razões que regem áquela situação não são legítimas, legitimidade essa,
que não é baseada nos valores de uma cultura só, mas baseada nos rituais da nossa espécie e em seus valores
universais - eles existem no mesmo nível do bocejar ou rir ou chorar - porque mesmo assim, a gente sempre fica
imobilizado na perplexidade e deixa acontecer? Por que o Paulo Coelho e o José Sarney, com aquele monte de
marinbondos, estão na Academia Brasileira de Letras e o Mario Quintana não? Por que a gente é condescendente
com quem é honesto e respeita o desonesto? Em que se baseia essa enorme força da covardia? Por que uma
mulher sem maturidade e autoridade suficientes a ponto de se trocar com gozação de jornalistas, é governadora do
Estado do Rio de Janeiro? Por que que o maleável sofre mais que o rígido, por que o radical sempre vence o liberal,
por que quem bate na mesa é mais respeitado do que quem quer conversar? Por que eu e minha civilização temos
que virar bucha de canhão de um cara com um núcleo psicótico grande o suficiente que, cidadão comum, com certeza
já tinham internado e jogado a chave fora, á revelia de tratamentos mais modernos?

Agora, só falta o Dhomini ganhar o BBB.

Beijo Ina :))


O comentário gerou um post e o post uma resposta:


"Angela, eu acho que este mundo é muito ingrato com quem tem neurônios suficientes para compreender como
funcionam as engrenagens sujas que movem este mundo. Nessas horas, invoco Pessoa -

Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.

Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.

És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.

- que descreve, como ninguém mais o fez, o que se passa em minha cabeça.

E nada mais posso desejar aos meus semelhantes, que não seja muita saúde e sorte, para que o Mundo aí fora
não esmoreça ilusões, não esmague projetos de vida, não pulverize a criança sonhadora que ainda esperneia
dentro de algum recôndito dentro da gente, e, principalmente, não atinja aqueles que nós amamos com uma
bala perdida, um pedaço de ônibus espacial na cabeça, uma metástase não diagnosticada a tempo ou uma
agressão gratuita numa esquina qualquer, e nos poupe das lágrimas que enchem de amargura tantas pessoas
boas e honestas que foram vitimadas sem nenhuma razão.

Em tempo, acho que o Dhomini já levou essa parada.

Beijabraço pra ti. E, é claro, SORTE!

Inagaki (@) (w) em 13/03/03 18:02"


Sem chance de não publicar : )

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