terça-feira, março 18, 2003
São 23:38. Acabei de perder trinta e quatro páginas de trabalho que não salvei e faltou luz. Não fale
nada por favor. Amanhã vai ter sol tenho certeza. Tem estrela. Meu gato Negopreto, vulgo Nhónhó,
fica pegando meus dedos enquanto digito. Imagino que isso deva acontecer com todo mundo que tem
um gato vivendo na mesa acima do teclado. Ele fica ali, entre o teclado e a prateleira do monitor. Nhónhó
adora ser gato. Acho que ele pediu pra vir gato. Mas se você quer saber, acho que ele já foi cachorro.
Eu chamo, ele vem, abana o rabo, arfa e quando é pra brincar, é brincar de jogar um bichinho de pelúcia que
ele sacode igual ao retriver que tem aqui do lado. Fiquei lembrando de coisas completamente nada a ver
umas com as outras. Jung explica. Lembrei de uma bata indiana que eu mesma fiz junto com Inês, que
tinha uns espelhinhos dentro de uma rodinha de crochê e vai entender porque isso me lembrou o primeiro
Colunistas que eu fui na vida, Olivetto de gravata de notas musicais, Nizan tinha vindo pra Artplan, era a
cara do meu exmarido deus me livre. Fiquei decepcionada. Achava que o cara que tinha sido o mais criativo
de todos, tinha que ser grande. Eu estava de salto doze ele batia na minha cintura o W.O. Mas foi simpático.
Me lembro que depois usei a mesma roupa no casamento da meia irmã da minha meia irmã. hehehe, Família
moderna. Lembrei do sol das três horas no vidro da porta da cozinha na Alvares de Azevedo, Titina, o nome
o nome verdadeiro dela era Rita, começando a preparar a mesa do lanche. Ainda dá tempo de fazer bolo.
Na casa da minha avó comia-se o dia inteiro. Tinha o lanche ás quatro horas, o jantar e a ceia. Tudo era em
torno da mesa. A ceia era ás 11 horas da noite. Chá com leite, torradas, lembranças de família, minha avó e
tetei cantavam a La Marseillaise no jantar, ...Allons enfants de la patrie, Le jour de gloire est arrivé...Eu achava
uma situação completamente surrealista, hoje me dá vontade de chorar. E então me lembrei do rosto, da
expressão na foto que saiu no jornal, da mulher do Paulo Francis quando ele morreu. Quanta dor. E tinha
mais alguma coisa ali, uma emoção nova, que eu não tinha visto. Uma espécie de clareza, sei lá. Tetei falava
dos negócios da família, das mágoas, das diferenças, vovó do coração, da esperança e dos filhos. Ela falava
de esperança depois de enterrar dois filhos. Sempre que eu me lembro de vóvo eu me lembro da mulher do
Ziraldo. O Ziraldo na tv dizendo que ela era quem segurava todo mundo. Vovó foi igual a mulher do Ziraldo.
Manteve aquele bando de gente louca unida até o final. Ás vezes eu olhava pra ela, quando tinha dezoito
anos e ficava pensando no que fazia uma pessoa sempre colocar outra antes de si mesma. Sempre.
Hoje eu sei.
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